Foto: Divulgação/Globo
Leonardo (Klebber Toledo) disse para Cláudio (José Mayer) que se cansou de ser o namorado secreto do empresário
Ter de viver um amor escondido, não poder demonstrar carinho em público, ser apresentado para outras pessoas como ‘amigo’ e estar sempre com medo de ser pego é algo que nem todo mundo consegue encarar.
Assim como Leonardo, Felipe Santana*, de 24 anos, também namorou um homem que não queria assumir a relação.
Outro ponto em comum com a ficção é que o parceiro dele era casado e tem quatro filhas. Na novela, Cláudio é casado há mais de 20 anos com Beatriz (Suzy Rêgo), com quem tem dois filhos.
O paulista conta que conheceu o namorado pela internet. Quando começaram a sair, não esperava que história fosse evoluir para um relacionamento que durou 4 anos.
“Rolou o primeiro beijo e foi algo inexplicável. Eu nem consegui dormir depois. Jamais imaginei que um iria se apaixonar pelo outro. Porém, acabou acontecendo”, diz.
Desde antes de se conhecerem pessoalmente, Felipe sabia que o outro era comprometido, mas mesmo assim deu continuidade ao relacionamento virtual, que caminhou para um namoro.
“Eu nunca cobrei nada dele, a gente se via quando desse. No começo era só aos sábados. Ele ia jogar futebol com os amigos e depois passava em casa. Eu nunca o cobrei muito”, comenta.
Enquanto Felipe não alimentava nenhuma expectativa de que o seu parceiro fosse largar a mulher, os dois tinham de viver a paixão às escondidas, sempre tomando cuidado para que ninguém descobrisse.
Às vezes, o namorado até cogitava a ideia de largar tudo e assumir o namoro, mas Felipe sempre foi pé no chão quanto a isso.
“Ele me questionava: ‘O que você acha que eu devo fazer?’, e eu falava ‘Olha, sua cabeça é o seu guia. Você sabe o que deve e o que não deve fazer’. Nunca me intrometi”.
O que mais o incomodou em namorar alguém sem poder assumir a relação foi o fato de não ter como contar com a presença do outro quando precisava ou sentia saudade.
Mesmo as situações mais simples eram difíceis para eles, como um churrasco com os amigos, em que todos levavam o namorado, ou um convite para um jantar num dia da semana.
A gota d’água para acabar definitivamente com a relação foi quando Felipe descobriu, por outras pessoas, que a mulher de seu namorado estava grávida da quarta filha.
“Para passar tudo o que passei, eu não faria de novo. Só eu sei o quanto sofri e o quanto foi difícil. Hoje, não me envolveria com uma pessoa casada e não assumida novamente.”
Quem também fica com o pé atrás antes de se envolver com um gay que ainda não se assumiu é Ivan Matheus, de 20 anos, morador de São Vicente, litoral paulista.
Depois de ter saído de um relacionamento longo, o técnico de cabeleireiro estava pronto para curtir a solteirice. Foi quando conheceu um garoto que não era assumido.
Mesmo sem poder ser apresentado para os amigos ou a família do namorado, Ivan não se importava. Os dois se bastavam. No entanto, a dúvida do próprio garoto em se assumir ou não causava problemas.
Ele chegou a viajar para contar para a família, que morava em outro Estado, mas não teve coragem.
“Quando ele voltou, disse que não podia namorar comigo, porque não aceitava o fato de eu ser assumido. Ele falou para mim: ‘O que me matou foi no dia em que eu cheguei de viagem e você me deu um abraço na frente de todo mundo’. Na hora em que ele falou isso eu perdi totalmente o meu chão”, comenta Ivan, que é homossexual assumido desde os 12 anos.
Ainda assim, o jovem diz que não é 100% contra namorar alguém que não é gay assumido, desde que isso não seja um conflito para a pessoa e nem atrapalhe o relacionamento.
“Tem uma única pergunta que eu faço: ‘Você tem certeza do que quer fazer da sua vida?’. Se a pessoa tem, beleza. Mas se ficar confusa, aí não”, diz.
Para a terapeuta de casais Silvana Rangel, a atitude de Ivan está correta. Tentar se poupar de situações que possam ser difíceis de administrar no futuro não é ser extremista, e sim um sinal de que você tem autoestima e sabe muito bem o que consegue e o que não consegue encarar.
Para quem está em um relacionamento com alguém não assumido, a dica é que sempre haja diálogo aberto entre os dois.
Quem não é assumido precisa ser sincero com o parceiro e dizer até que ponto pensa em mudar a situação ou não, enquanto o outro tem o papel de entender e decidir se aceita ou não viver essa situação infinitamente ou mesmo esperar pelo momento em que o outro decidir se abrir.
“Eu conheço um caso em que a pessoa diz ‘Qualquer dia eu assumo’. É aquela história: quando a gente não quer visitar a nossa tia, a gente fala que está sem tempo. Na verdade, ela está querendo ganhar tempo, tentando evitar o que é inevitável”, comenta a psicóloga.
No entanto, Silvana lembra que não é papel de ninguém pressionar a outra pessoa a se assumir. “Independente do tipo de relacionamento, nada justifica forçar alguém a fazer algo”, diz.
Segundo ela, quando alguém se coloca na posição de não assumir, na verdade está com medo de arcar com as consequências.
“Se as pessoas tiverem só um pouquinho de coragem para mostrar o que têm no coração, será o primeiro passo em direção à liberdade. O respeito por si próprio é o início da perda do medo.”
Foi assim que aconteceu com Roberta Macedo, de 25 anos, que conheceu sua mulher quando ela ainda não era assumida, mas nunca a forçou a nada.
Com o tempo, a parceira foi percebendo o quanto o fato de não viver sua história abertamente estava estragando o relacionamento e, por conta própria, decidiu ir contando aos poucos para os amigos e a família. Não dá para saber o que teria acontecido se a parceira continuasse enrustida. Mas não deixa de ser uma prova de amor dar esse passo para investir no casamento.